Sem uma diretoria nominada e eleita
Na década de 60, Santa Catarina praticamente não existia como polo turístico no mapa dos viajantes. A capital, Florianópolis, era desconhecida. A ligação terrestre entre a ilha e o continente ocorria somente pela única ponte existente, a Hercílio Luz – fechada em 1982, por medida de segurança, sendo atualmente tombada como patrimônio histórico e artístico e servindo como um dos mais belos cartões postais da cidade. Também não havia uma ligação rodoviária de fácil acesso com os estados vizinhos, Rio Grande do Sul e Paraná, pois justamente no trecho catarinense, a BR-101 não fora construída. A rota que atendia os viajantes do RS e PR era a BR-116. Outro fator de isolamento da capital estava também relacionado a essa falta de ligação rodoviária com as demais cidades do interior de Santa Catarina. “Não havia estradas e nem outros meios de comunicação como atualmente, e telefones eram poucos. Chegar a Florianópolis era muito difícil, pois o acesso se dava por terra de chão batido, esburacado no tempo seco e um atoleiro em época de chuva”, relembra um dos poucos donos de hotéis da capital, que foi, aos 27 anos de idade, o primeiro presidente da ABIH-SC.
De acordo com Odson Cardoso, as duas únicas cidades tidas na época como referência catarinense, por serem polos industriais, eram, respectivamente, Joinville, localizada no nordeste do estado, sendo até hoje o município mais populoso de Santa Catarina, e Blumenau, localizada no Vale do Itajaí, sendo atualmente a terceira cidade mais populosa.
A criação da ABIH-SC, entidade que hoje é uma referência não só para os hoteleiros catarinenses, mas também para os empresários de outros segmentos ligados ao trade turístico do país, começou a se desenhar em 1964, durante a 1ª Convenção Hoteleira do Sul, realizada entre os dias 15 a 22 de novembro, em Blumenau, sob o comando da ABIH-SP, tendo como uma das lideranças Paulo Henrique Meinberg, da Secretaria de Turismo e Fomento da prefeitura da capital paulista. Já em 1966, durante a 2ª Convenção Hoteleira do Sul, realizada em Caxias do Sul, as principais bandeiras defendidas pela associação eram a construção da BR-101 no trecho da capital e a divulgação dos empreendimentos hoteleiros, com o objetivo de atrair visitantes para os poucos hotéis existentes na época: Oscar Palace Hotel, Querência Palace Hotel, Hotel Royal, Lux Hotel, Majestic Hotel, La Porta Hotel, Hotel Blumenau, Marambaia Cassino Hotel, entre outros. Nessa missão, revela Odson, a nova diretoria teve total apoio das ABIHs do Rio Grande do Sul e do Paraná, que viam a possiblidade de expandirem seus empreendimentos na ilha, e das duas únicas revistas voltada ao segmento de turismo no país, a Hotéis do Brasil e BrasilTuris.
Seu primeiro grande trabalho como presidente da ABIH-SC foi a divulgação da culinária de Florianópolis, durante a realização do 1º Festival de Gastronomia do Brasil, realizado no Parque Ibirapuera (SP). “Foi um trabalho isolado e de abnegação de cinco ou seis hoteleiros e de apenas dois restaurantes, sem nenhum apoio na época dos governos do estado e da capital”, relembra Odson. Contando com o apoio de três cozinheiros da Lagoa da Conceição, entre os quais Mario Guimarães – que segundo ele hoje é taxista – foi responsável pela culinária de diversos pratos tendo como base 1.200 quilos de camarão. “Nosso estande, apesar de pequeno, estava sempre cheio, porque camarão era um fruto do mar pouco conhecido naquela época”, afirma Cardoso, acrescentando que aproveitou o máximo para fazer a entrega de cartão de visita dos hotéis de Florianópolis. Passado o evento, restaram não consumidos cerca de 600 quilos de camarão. Para não perder o produto, muito caro, ficou durante alguns dias na Ceasa de São Paulo, vendendo camarão. “Consegui um espaço para vender o camarão e outro para dormir, o que também aproveitei para continuar fazendo a divulgação através de novos contatos na Ceasa paulista”, conta com orgulho o primeiro presidente da ABIH-SC.
