Santa Catarina é um estado agraciado pela diversidade cultural alimentar. A
influência dos afro-brasileiros e dos colonizadores europeus acrescentaram
peculiaridades à cultura vicentista e indígena, produzindo qualidades especiais
aos hábitos alimentares catarinenses. O termo “hábitos alimentares” refere-se
ao “o que”, “como”, “onde”, “quais”, “quando” e “quanto” as pessoas comem e
as relações entre as etapas de seleção, produção, formas de preparo,
consumo e descarte dos alimentos. Os hábitos alimentares e a gastronomia
dos catarinenses são motores que potencializam a atividade turística em Santa
Catarina.
Anteriormente os hábitos alimentares catarinenses estabeleceram os
processos de comercialização e industrialização dos bens alimentícios.
Atualmente estes costumes retornam como elementos essências, por meio de
seus saberes e fazeres, para promover a cultura alimentar no segmento
turismo gastronômico.
O turismo gastronômico é um subsegmento do turismo cultural que vem
despontando como uma grande oportunidade para o aumento da demanda
turísticas em todas as regiões. Segundo a Organização Mundial de Turismo, a
gastronomia é o terceiro maior fomentador das viagens no mundo. O fomento
da indução do turismo pela gastronomia não acontece simplesmente pelo
prazer da degustação – vai muito além do experimentar a culinária e os pratos
típicos de um lugar e aporta nas experiências para descobrir, entender e
vivenciar o contexto da cultura alimentar, considerando que hábitos
alimentares são ativos presentes em todas as culturas. O turismo gastronômico
coloca a gastronomia como um pilar da identidade regional e do patrimônio
cultural, valorizando as relações entre comida e sociedade. Estende-se em
mergulhos nas histórias dos produtos, na produção dos insumos, nas técnicas
de preparo, como uma narrativa que promove uma imersão integrada com as
demais manifestações, criando percepções que dão um verdadeiro propósito
as experiências vivenciadas.
Segundo Nathália Bernardinetti, analista de projetos educacionais do Senac
SC responsável pelo Observatório da Gastronomia, o segmento turismo
gastronômico ainda não está consolidado em Santa Catarina. Porém, segundo
ela, isso pode ser considerado um ponto positivo, pois ainda podemos trilhar
um caminho ideal para que o segmento possa se ampliar atendendo vários
aspectos essenciais para um desenvolvimento pleno. Nathália afirma que “as
rotas e roteiros gastronômicos precisam conectar e integrar produtores,
empreendedores, gestores, bases comunitárias e consumidores para a
valorização do produto local, que é o principal elo da cadeia produtiva da
gastronomia”. A valorização dos produtos locais é o que desencadeia todo o
processo pertinente ao turismo gastronômico, pois justifica o posicionamento
relacionando a cultura com as questões socioeconômicas, conclui Nathália.
O grande potencial que Santa Catarina tem para ofertar experiências
gastronômicas significativas e diferenciadas em todas as regiões turísticas é
caracterizada pela diversidade da cultura alimentar catarinense. E isto é bem
destacado nas festas e festivais gastronômicos do estado. As festas
tradicionais e populares que promovem ou celebram a cultura alimentar
catarinense são indutoras para o turismo gastronômico.
A maioria das festas tradicionais e populares catarinenses celebram as safras
de produtos ou as receitas gastronômicas locais. Pinhão, maçã, milho, cucas,
marreco recheado, pescados, ostras, cervejas artesanais, vinhos, linguiça e
pirão são motivos de celebração, frutos da cultura alimentar e ativos
socioeconômicos responsáveis, muitas vezes, por alavancar a economia de
cidades e regiões catarinenses. As festas também cumprem um outro
importante papel na conexão entre a cadeia produtiva e o reconhecimento e
valorização dos alimentos como partes da estrutura cultural.
Nathália ressalta ainda que é preciso muito investimento para que Santa
Catarina possa despontar no segmento turismo gastronômico. Fatores como
qualificação e inovação são essenciais. Mas fatores como infraestrutura e
legislações são prioritários e precisam estar priorizados nas políticas públicas
e planejamentos do turismo. Como por exemplo, infraestrutura de sinalização
dos locais de produção e adequações das legislações da gastronomia que
ainda não distinguem as produções artesanais das industriais, prejudicando e
inibindo que pequenos produtores e bases comunitárias consigam estar
formalizados para atuarem na cadeia produtiva da gastronomia. Outro fator
apontado por Nathália seria dar voz ao turismo gastronômico, incluindo o
segmento nos grupos de trabalho da Agência de Desenvolvimento do Turismo
de Santa Catarina.
O turismo gastronômico é uma imersão cultural, que utiliza o alimento como
meio de conexão entre as pessoas e os lugares E desta forma precisa ser
implementado aliando o desenvolvimento econômico e social com um
planejamento responsável e sustentável, construído em conjunto com as bases
comunitárias locais, respeitando a sua identidade e contribuindo para a
minimização dos impactos negativos que o turismo pode causar.
Todas as treze regiões catarinenses possuem potencial para desenvolver o
segmento turismo gastronômico. Basta idealizar que as principais receitas
tradicionais de Santa Catarina, como marreco recheado, peixe escalado na
brasa, sopa de agnolini, sequência de camarão, pierogui, arroz de carreteiro,
tortéi, bolachas de mel e melado, geleias, cucas e pães caseiros, salames,
apfelstrudel, pirão, salsichas, eisbein, farofa de farinha de mandioca,
caldeirada de peixe, polenta com radici, bolinho de siri, entrevero de pinhão,
lula recheada, feijão tropeiro, além de tantos outros produtos coloniais, estão
recheados e cobertos de histórias, narrativas e contextos culturais, que podem
e devem se relacionar com às atrações turísticas de cada região, para fertilizar
a importância do turismo gastronômico como um segmento de sucesso na
atividade turística catarinense.
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