19.fev.21 | Por: ABIH-SC

5 perguntas para o presidente da ABIH Nacional

Um dos vários setores afetados pela pandemia da Covid-19 foi o da hotelaria. Manoel Linhares, presidente da ABIH Nacional (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) diz que é impossível comparar 2020 com 2019 e classifica o ano passado “como o pior período da hotelaria” nacional. O setor já perdeu 75 mil empregos e apesar da retomada lenta do turismo, Linhares fala nesta entrevista para a Now Boarding ainda prevê um ano difícil e comenta sobre o aumento dos custos dos hotéis tiveram que fazer para se adaptar aos protocolos de higiene e se estes custos serão repassados para as diárias.

A ABIH já conhece os números do faturamento do setor em 2020? Gostaria da sua análise comparando-os com 2019.

Manoel Linhares, presidente da ABIH Nacional – O ano passado vai entrar para a história como o pior período da hotelaria e do turismo em todos os países. No Brasil, passamos metade do ano fechado ou funcionando parcialmente, com ocupações muito baixas, em cerca de 5%. A pandemia e as restrições impostas pelas autoridades paralisaram o turismo a partir de março de 2020. Mesmo com a reabertura gradual dos destinos, o que estamos vendo até agora é uma recuperação ainda bastante lenta, onde se destacam cidades menores, próximas aos grandes centros que por sua vez, vem tendo baixa procura. Não há como comparar o ano passado com 2019, quando obtivemos um crescimento no setor de turismo acima do Produto Interno Bruto (PIB), gerando 163% mais empregos que o ano anterior.

Com a pandemia, qual foi o impacto na indústria hoteleira no ano passado? Muitos hotéis fecharam definitivamente? Quantos empregos foram perdidos?

Manoel Linhares – Segundo estudo da WTTC, o turismo perdeu cerca de 174 milhões de empregos em 2020 no mundo todo e deixou de contribuir com US$ 4,7 trilhões para o PIB global, o que equivale a uma perda de 53% em comparação com 2019. No Brasil não foi diferente. Com a paralisação das atividades relacionadas ao turismo, vimos vários hotéis e meios de hospedagens encerrarem suas atividades e outros com muita dificuldade de retomar, pois a demanda ainda é muito baixa. Segundo estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP), o setor de turismo perdeu 384 mil postos formais de trabalho em 2020. O número corresponde a 45% do total de vagas fechadas na economia brasileira até agosto. Desse total, o setor de hospedagem perdeu cerca de 75 mil vagas formais e diretas.

O setor teve apoio do governo em 2020? Ele foi suficiente?

Manoel Linhares – Estivemos o tempo todo em contato com parlamentares e representantes do governo federal e conseguimos a aprovação e a extensão da MP 936 que possibilitou a renegociação de contratos de trabalho, com redução de jornada e salários, permitindo a manutenção de milhares de empregos pelo país, A aprovação da MP 944 garantiu linhas de crédito para pagar os salários dos colaboradores do setor, e teve a MP 948 que desobrigou o reembolso imediato, por parte dos fornecedores.

É preciso destacar, porém, que muitos meios hospedagens ainda precisarão de apoio do governo para conseguirem reabrir, por isso uma das principais reivindicações do setor de hotelaria é a suspensão da amortização das suas dívidas também em 2021 – como foi feito a partir de abril até dezembro de 2020 – e a reprogramação dos pagamentos a partir de 2022. O resultado de serem obrigados a arcar com mais essa despesa no momento, pode ser o fechamento de vários meios de hospedagem pelo país.

No momento, temos destacado ainda a necessidade de extensão da redução e suspensão de jornada de trabalho promovido pela Lei 14.020 de 2020 e a prorrogação da norma que autoriza o parcelamento das verbas rescisórias de colaboradores demitidos, além da revisão da questão do adicional de insalubridade das camareiras, da prorrogação do FGI e Fungetur, em especial, havendo garantias pelo Programa do Governo, sem exigência de garantia real.

O ano de 2020 foi muito difícil, os hotéis ficaram fechados por meses, depois retomaram as atividades com limites de ocupação máxima, mas no Réveillon alguns destinos voltaram a fechar completamente e não receberam turistas. Em 2021, deve se iniciar a retomada do turismo, mas para que as empresas continuem suas atividades e passem por esse momento difícil, precisamos do apoio do governo federal, além da compreensão dos governos municipais e estaduais para amenizar os efeitos econômicos da pandemia e assim também ajudar a preservar empregos e renda.

Como o senhor avalia que o setor da hotelaria vai se comportar este ano?

Manoel Linhares – Será um ano de retomada das atividades, com os números de ocupação só devendo voltar aos patamares anteriores depois que a vacinação contra a Covid-19 avançar. Acredito que o setor de hotelaria, como um todo, só deverá mesmo voltar à normalidade no final do ano. Porém, alguns meios de hospedagem localizados em cidades menores, próximas ao destino de origem, e em locais de ecoturismo, já vêm mostrando uma boa reação, se transformando no momento na principal opção dos viajantes.

O que os hotéis fizeram, e estão fazendo, para se adaptar aos rigores sanitários determinados pelo setor da saúde e garantir hospedagem segura aos hóspedes? A ABIH estima que em razão destes protocolos, e seus custos, os hotéis absorverão este impacto ou teremos um aumento nas diárias?

Manoel Linhares – Entre as medidas de segurança adotadas pela hotelaria nacional está uma iniciativa da ABIH Nacional e outras entidades ligadas ao setor que elaboraram, com apoio da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o “Manual de Segurança e Higiene” para orientar todos os meios de hospedagem do país sobre as medidas contra a disseminação da Covid-19. Ele descreve todas as ações básicas para garantir a prevenção e a não transmissão do vírus, como o distanciamento social, a higiene pessoal, a sanitização de ambientes, a comunicação e o monitoramento dos protocolos e recomendações.

Todo esse investimento para atender as normas estabelecidas pelas autoridades sanitárias está sendo feito para que se possa ter uma retomada das atividades de forma segura que garanta a segurança e a saúde de hóspedes e colaboradores. Não há previsão do repasse desses custos para as diárias, mesmo porque o momento de baixa demanda não permitiria isso. Por essa razão, temos apelado para as autoridades maior atenção com os setores de turismo e hotelaria brasileiros para que elas compreendam e atendam as reivindicações que citamos anteriormente, para que possamos passar por isso mantendo nossas empresas e empregos para depois continuarmos nosso caminho de transformar o Brasil num dos principais destinos mundiais. Potenciais e atrações não faltam para isso.

Fonte: Nowboarding

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